terça-feira, 21 de julho de 2015

FAST-FASHION, ou...

FAST-FASHION, ou... Você vai à feira livre toda semana, passa pela barraca da Tia (às vezes mal humorada) que expõe ótimas cerejas, todas fresquinhas, trazidas da fazenda direto para o cesto da banca. Dessa mesma safra, orgânica, é bom ressaltar, a tia expõe seus desdobramentos: a torta produzida por ela mesma e seus sobrinhos, o molho que ela misturou com especiarias e é o segredo daquele prato do chef famoso francês da tv e a geléia de pura fruta, de causar inveja a doceira preferida deKarl Lagerfeld. Você quer comprar, claro, mas não tem como, é bem mais caro e o fornecedor da tia simpática da banca ao lado gritou mais forte, tão forte que desempregou dona Dora, (de quem falarei um pouco mais a diante), que assim como dona Laura, foi largando o tacho. Foi assim com dona Maria, dona Severina, seu Ótávio, sr Osvaldo e vários outros...
Junto ao "grito silencioso" do grande fornecedor da tia simpática da barraca Anilinamente policromática, vem aquele cheiro que vc viu na tv... seu olho já pode cheirar?... hummm ...alí, aquele nariz que ainda lhe serve e te leva para a pipoca sabor cereja do micro-ondas da barraca da tia fofa, explode olfativa e amorosamente a "pipoca moderna!" sabor cereja-pink-fluor, tendência na vasta cartela de pantone da temporada. Essa pipoca, eu, você, todo mundo pode! tem até pipoca 12X S/ JUROS, (sei...) Você olha atentamente ao cartaz e: WoW! a foto da Gisele recortada sem o Pantene multi-vitaminas que estampava a Revista semanal preferida da tia fofa e que lhe servira incrivelmente como estandarte para embelezar e atestar sua barraca para seus multi-estilosos clientes. Enfim, quem não gostaria de comer cerejas como a gisele? você pode! Você pode tudo, a filha do Paul quem falou, não foi só a Gisele. E vc chegou a ouvir da filha de outro Paulo, aqui do Brasil, que tinha gente se estapeando pra comer cereja em nosso país assim como come a Filha do Paul lá em London. A filha do Paulo de cá conseguiu. Bravo!
Você comprou a que pôde. Aquela que coube no orçamento, pois se com as primeiras cerejas ficasse, teria talvez que abrir mão da visita à feira na semana seguinte, assim, fingiu que a cereja no potinho não era formada de redondas partículas de mamão verde, mergulhadas numa essência de CEREJA ADH-27, com uma saborosa calda de açúcar e água, sem esquecer da tal ANILINA-CHERRY razão do sorriso da tia fofa, que vc finge que não sabe de nada. Tenha certeza, ELA NÃO SABE. Ela não soube como saber, só a comunicaram pelo seu smartphone que a fatura do cartão estava vencendo e ela, verá que um filho teu não foge a luta! Afinal, o credor SABE.
Você leva a cereja pra casa, enfeita seu bolo tipo o da Tia da primeira barraca, aquela mais cara, lembra? ou a Gisele da segunda te fez esquecer? tembém, com aquela beleza, ave Maria! ou melhor, Ave Gisele!
Só te digo uma coisa, se quiser comer a geléia dessa cereja-mamão produzida em Bangladesh, aquela que o pé de mamão-cereja desabou levando várias produtoras para onde cresce a raiz das coisas, lembra? para isso, você precisa voltar à feira e comprar um pouco de "Cravo-da-Índia", esse cravo é de lá mesmo, pois aprendi no sertão que "mamão verde é bom mesmo é com cravo-da-Índia!", que ajudava a seduzir aquele doce pago diretamente a Dona Dóra, uma linda e elegante mestiça e doceira da minha infância, não tinha um bom humor, dava umas risadas graves, gostosas, coisa lá dos seus ancestrais, mas fazia todos bem humorados na sua casa doce e "coitêra" era tudo simples e delicioso. Mas se quisesse doces finos, você poderia ir à Tia Laura, minha tia avó que dedicou-se a descobrir a magia causada pelas cerejas e outras belezas da terra, escreveu livros de receita, era mais caro que a Dona Dóra, confesso, mas essa sabia seduzir como ninguém, ou melhor, ela sabia colher da cereja seus atributos mais nobres.
Guto, Rio, 01 de Julho, 2015.

Att.: Obrigada Guto Carvalho pela honra de publicar um texto tão artístico e de uma beleza tão sua. Ter um artista completo como você como colaborador de meu blog é para mim uma grandessíssima alegria!  Cheiro no coração!