Outro dia estava eu na sala de aula,
ouvindo uma aluna lendo um poema de Cecília Meireles, Retrato, enquanto os
outros faziam a atividade proposta, eu observava como quem está em uma janela, a
vida comum a todos, e assim a leitura transcorria...
"Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?”
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?”
Em um breve instante me transportei para
um tempo não tão remoto, mas bem juvenil, lembrei de um trabalho de educação
artística que a professora havia sugerido, quer dizer, hoje os professores
sugerem, antes eles mandavam e impunham, enfim, voltemos ao espelho... meu
espelhinho redondo, rosa e cheio de florzinhas ficou LINDO! Fiquei tão
satisfeita que não parava de olhá-lo e olhar-me, tudo era, era... muiiito
jovial. A adolescência passa num piscar, e quando nos deparamos adultos,
estamos tão ocupados com as conquistas que não nos importamos muito em nos
olharmos no espelho, pois no fundo achamos que aquela cara envelhecida de um
alguém que passa é coisa que demora a chegar, TODO MUNDO SABE: as coisas ruins
só acontecem com os outros, o engraçado que a depender do ponto de vista, OS
OUTROS pode muito bem ser nós mesmos, depende de quem olha, e nem nos damos
conta disso ou simplesmente não queremos perceber, tudo bem.
Continuamos jovens aos trinta em diante só
que com uma informação adicional, Diz "sou jovem por dentro", a
maturidade é fogo...todo mundo a quer, mas ninguém aceita a sua condição, e é
nesse ponto exato que as olhadas no espelho vão diminuindo, não por que não
desejamos, mas por enfrentar um rosto já maduro que talvez não condiz com o
retrato que fazemos de nós mesmos. Aqui não está em voga à beleza ou a feiura
de cada um, pois cada um, nesse assunto, se identifica como queira. Isso
depende muito da auto-estima, há dias em que me sinto linda, outros nem tanto
assim, acho que isso acontece com todo mundo, pois sentir-se feio de verdade
não parece ser bom não. Enfim...
Espelho, espelho meu tem alguém mais
realista do que eu?
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Ele não respondeu.
Por: Adriana Carvalho